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Darléa Zacharias, ex dependente química, teve seu primeiro contato com as drogas aos nove anos de idade. Ela era uma criança muito hiperativa e agitada. Aos 10 anos, frequentava festinhas e sempre ingeria o resto da bebida alcoólica que sobrava nos copos das pessoas.

 

O envolvimento com álcool acabou ficando

mais sério quando ela atingiu a adolescência.

 

“A diversão para mim estava associada ao

álcool. Se não tivesse bebida, não tinha

graça. As coisas foram evoluindo e eu me casei.

Aos 25 anos, eu tive uma depressão pós-parto

e foi aí que eu

conheci a cocaína”.

Hoje, com um sorriso no rosto, porém carregado de marcas deixadas pelas drogas, Darléa conta que foi internada duas vezes. A primeira foi contra a sua vontade, em uma clínica, ela não admitia que estava sem controle sobre a sua vida e não se considerava uma dependente química.

“Na minha segunda internação, tive ajuda no centro espírito e pude perceber que eu realmente estava doente. E mesmo sendo solicitada por mim, foi a pior de todas, pois foi nesse momento em que eu perdi o meu marido e o meu direito de ficar com os meus dois filhos. Quando eu tive a chance de escolher por eles novamente, eu escolhi a droga”, comenta arrependida.

 

Além dessas internações, a dependente foi internada duas vezes em um hospital psiquiátrico devido a uma overdose que lhe causou na época uma paralisia facial.

Ela conta também que durante o tratamento teve diversas crises de abstinência, pois tudo em sua vida estava associado ao uso de drogas. Ela teve que parar de ir a festas e sair do convívio social por um tempo porque sentia muita dor de cabeça, coceira no corpo, e náuseas.

“No ano de 2000, eu completava quatro anos sem fazer uso de qualquer substância química. No carnaval desse mesmo ano, eu reencontrei o Antonio, um antigo companheiro de uso de drogas e meu atual marido. Na época, ele continuava usando e a gente começou a namorar. Foi nesse momento que eu tive uma recaída e quase morri”.

Os dois passaram três dias trancados em um quarto de motel usando drogas, até que ela teve uma hemorragia digestiva ocasionada pelo uso abusivo das substâncias.

 

De acordo com Antonio Felipe Costa Zacharias, de 48 anos, ela foi socorrida em um hospital público.

 

“Quando eu cheguei com ela no hospital e fui explicar para o médico o que havia acontecido e que ela estava tendo uma overdose, o doutor, ironizando a situação, disse que desconhecia a overdose como uma doença e ainda afirmou que isso era falta de vergonha na cara. A enfermeira de plantão aplicou a medicação e a jogou em uma maca enferrujada no corredor da emergência”.

Antonio e Darléa foram para casa, mas não demorou muito para que ela passasse mal novamente. Ela foi então encaminhada a uma clínica particular onde ficou internada na UTI. Antonio conta que, quando chegou para visitá-la, deparou-se com a namorada toda entubada. Naquele momento, ele prometeu que, a partir então, nunca mais voltaria a usar drogas.

 

“Ela salvou a minha vida. Precisou chegar

a esse ponto para que eu parasse de usar.

Eu comecei nessa vida aos 18 anos e só

fui compreender nesse momento que

isso mata e que não é brincadeira”.

Os dois se casaram e hoje levam uma

vida normal. Limpa há quinze anos, ela virou escritora,

publicou dois livros com o simples objetivo

de passar para a frente sua história de

superação e encorajar mais pessoas a deixar o

mundo das drogas. Antonio é funcionário

público federal, cargo que quase perdeu nos tempos ruins.

Além das comunidades católica e evangélica, a Federação Espírita também exerce um trabalho importante na recuperação de usuários de drogas.

De acordo com o dirigente da Federação Espírita do Estado de São Paulo, Irineu Causin, ter fé e acreditar em Deus é essencial para a conclusão de um tratamento.

 

“Nós temos um tratamento destinado a esses usuários, que é o plano espiritual, formado por palestras que acontecem durante 12 semanas cujo tema gira em torno das viciações, e também pelos passes. Essas palestras orientam esses dependentes químicos a saírem desse mundo junto com o evangelho segundo o espiritismo e depois são encaminhados para o passe espiritual”.

Causin explica que o tratamento ocorre na Federação, porém, se o paciente quiser complementá-lo, é aconselhado a procurar assistência médica.

Para a Federação, o número de recaídas ainda é muito alto. De acordo com o controle que a instituição realiza durante e após as palestras, é possível concluir que a falta da retaguarda familiar, médica e espiritual fazem com que esse percentual só aumente.

O trabalho do espiritismo em conjunto com as clínicas

RELIGIÕES NA CRACOLÂNDIA

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